É o caos!
Vida besta
sem motivo
sem ser...
Eu aqui, preso na obscuridade
enquanto lá fora
a vida se estende
em todas as direções
de todas as formas.
No sol
nas pedras
nos homens
nas águas de um rio
acotovelando-se ruidosamente
na ânsia de chegar primeiro;
no sorriso da vegetação
umedecida pelas mesmas águas do rio
que brincam de pular altura;
na felicidade da plenitude do azul
sem mácula
de um céu que já foi cinzento.
Na esperança trazida pela brisa
que sopra de mansinho...
E eu,
nos meus vinte e cinco anos
no fim da vida
com a vida toda pela frente...
Lá fora a vida contagia.
Gente alegre
com gente sã
com gente jovem
com gente velha
com gente que vive
com gente que espera.
E eu aqui,
inútil e indiferente a tudo
sem razão de ser...
Como um grupo de soldados
.Como um grupo de soldados
esfarrapados, idealistas
sem comando e sem comida
sem família e sem motivo
lutando desesperadamente
sem saber que a guerra acabou...
Como as águas deste rio
.Como as águas deste rio
a minha frente
correndo sempre na mesma direção
com pressa de chegar
sem saber aonde
sem saber pra quê
sem saber por quê
sem outra alternativa...
Como um condenado, .Como
um assassino
na prisão perpétua,
lutando pela sobrevivência
com alguns metros de mundo
para viver a vida toda
consciente do seu estado
certo de suas desesperanças...
E eu aqui, .E eu aqui
assistindo a tudo
mudo e cego...
.E lá fora a vida...
Salto do Avanhandava, 09.08.70